Rentabilidade muito acima da média do mercado, risco baixo e retorno no
curto prazo. Várias pessoas se sentem atraídas por uma fórmula como esta,
especialmente no atual contexto econômico brasileiro, onde as
aplicações de renda fixa e a poupança oferecem um ganho de aproximadamente 0,5% ao mês, além do fato da Bolsa de Valores acumular tombos consecutivos.
Consultores financeiros ouvidos pelo Jornal O GLOBO afirmam que essa pode ser uma
das razões para o ressurgimento dos esquemas conhecidos como pirâmide
financeira, um tipo de golpe que desde o século passado atrai gente de
todas as classes sociais no Brasil e no exterior com promessa de ganho
elevado e fácil. Especialistas dizem que os golpistas se reinventaram na
era eletrônica, quando a internet, via redes sociais ou e-mails,
multiplicou o poder de arregimentar vítimas.
Segundo o consultor financeiro Miguel Ribeiro de Oliveira, esse tipo de armadilha atrai muita gente que está em dificuldade
financeira ou muito endividada. Há também os que procuram uma
alternativa mais rentável de investimento e acabam no golpe. O atual
cenário econômico, com renda fixa dando um ganho real muito pequeno, com
a queda da taxa de juros, e a Bolsa com perda de mais de 20% no ano,
favorece a aplicação desse golpe. A volta da inflação, atualmente
rondando o patamar de 6,5% ao ano, também é um ingrediente a mais. Na
prática, inflação mais elevada significa renda corroída e menor poder de
compra. Qualquer opção de aplicação que ofereça ganho real
acima da inflação é interessante. No caso das pirâmides, o ganho
geralmente é muito superior à medida do mercado. Mas se transforma em
prejuízo, em pouco tempo. As principais vítimas são aquelas que vão
entrando no esquema por último, antes que desmorone.
A nova onda de pirâmides foi identificada em reunião da Associação Nacional do Ministério Público do Consumidor (ANMPC). Foi então que os ministérios públicos estaduais e federal formaram uma força-tarefa que já bloqueou bens e suspendeu as atividades de TelexFree e BBom, além de investigar outras 16 empresas.
Conforme argumenta o promotor Murilo Miranda, presidente da ANMPC, a questão das pirâmides
é cíclica e ocorre sempre por razões diferentes. Há mais de 60 anos
temos casos no país. Com a internet e as redes sociais, não há mais
limitações para essas empresas, e a rede de divulgadores se dissemina
com uma abrangência maior.
E os consumidores devem estar sempre atentos, porque os novos casos não param de surgir, desde setembro, nos estados do RS e RJ, a Procuradoria da República investiga novas denúncias, havendo, inclusive, decisões judiciais recentes contra novas entidades que praticam a pirâmide financeira nos mais diversos ramos, sendo um dos últimos o pagamento 30 prestações de R$ 50 a R$ 120, levando os consumidores a
acreditar que, ao fim desse período, receberiam uma carta de crédito mil
vezes maior do que a parcela.
A população deve ficar vigilante ao que caracteriza as pirâmides financeiras, de venda de serviços ou de
produtos. A origem do lucro são os próprios participantes. Se o ganho vem do
dinheiro aplicado pelos que entram no negócio, então trata-se de um
esquema clássico.
Fonte: Jornal O Globo